sábado, 24 de março de 2018

As luzes da rua ainda estão acesas, mas já me levantei.
As noites de insónia voltam constantemente, e não tenho sabido lidar com isso.
Voltei a fazer um jejum intensivo, de comida, de pessoas, de sentimentos. Talcez seja esse o mal maior. Essa abstinência forçada implica que não aceite tanta coisa, em vez de ser, só estou.
Estou em casa, no meu quarto, depois estou de pé no trabalho e volto a estar em casa. Estou. Não sou.
Às vezes, nestas noites prolongadas, acabo por te deixar entrar. Esse espectro no canto do meu quarto que também tenho ignorado. Falamos e voltamos a confidenciar a vida que levamos. E quando finalmente te deixo partir, voltar ao lugar neste quarto, nasce em mim um impulso de ir contigo.
Ir contigo para esse ângulo recto, e encarar essa parede. A parede é a janela para outra dimensão. Nessa dimensão, somos transcendentes e estas ânsias não mais me acometem. Vértice, vórtice, como lhe quiseres chamar, é um portal.
Talvez um dia, ganhe coragem, me levante e finalmente parta contigo. Até lá, espera por mim na estação, sorri-me de quando em vez, e volta para conversarmos. Estas conversas me devolvem e me fazem voltar a sentir.

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