terça-feira, 30 de junho de 2015

Ecos

Os gritos que ecoam na noite, ainda se fazem ouvir. São monstros mitológicos actuais que se fazem sentir.
O frio entra pelos vincos do lençol,  traz consigo a tormenta. "Tenho medo", sempre tive medo,  e hoje mais do que nunca.
"Então cala o medo; cala a tormenta, finge que está tudo bem,  vai tudo bem,  tudo ficará bem. Finge até acreditares que sim,  finge até ser verdade".
Talvez só assim poderás ser feliz. Ou pelo menos fingir que o és.

Não sei se o consigo,  fingir também requer esforço,  não sei se consigo.
"Não pode o medo me consumir? Não posso eu sucumbir?"
Há  também beleza em sofrer,  talvez seja melhor sofrer. Porque fingir não  sofrer é  tormento. Deixa-me ser verdadeira,  deixa. A verdade é  que eu sofro,  há  muito tempo que tenho sofrido, não  sei como sair deste ciclo vicioso,  não  sei.

Tenho escrito e feito tantas catarses,  não  são  bastantes. Que baste ficar em estanque existência,  garrafa na mesa,  night à  direita. Isto é  o bastante. Permite-me que o seja.

Se me preguntares como e quando sou feliz,  hei-lo: sou feliz assim, sem ecos,  sem sombras,  sem vozes. Sou feliz em estanque existência,  se me destruo enquanto isso,  não  sei. Mas é  o apogeu da minha existência,  Deus meu,  a que ponto cheguei?

És tu...

Queria falar contigo e ouvir a tua voz, queria tocar-te, congelar o teu rosto naquele sorriso que eu amo, queria sentir que o espaço que sobrava em mim,  tomaste-o tu. Conquista-me de mansinho, firma-te em mim e deixa-me firmar também. Sê meu por inteiro. Eu não sei mentir,  não sobre isso....

A verdade é que és tu, na alvorada serena,  janela a dentro perena,  trazendo a alegria de uma vida;
És tu quando eu tento adormecer,  firmado em meus vislumbres de ser.
Revela a minha existência,  sê  câmara escura,  sê  isso para mim.
Desculpa se te encho de tarefas,  não  me leves a mal.
Mas sabes esperei por ti uma vida,  anseei,  sofri,  sabes?  As dores que sofri também foram tuas, porque tu és parte de mim. Mesmo sem antes o saberes,  sempre foste parte de mim.
E assim que eu vejo a nossa existência.
Eu não quero chamar isto de relação,  as relações findam,  as pessoas cansam-se cortam laços e fingem nunca se ter amado. Eu não  quero isso para nós. Entendes isso?
Eu não quero findar em ti,  no bom sentido. Eu quero me expandi,  expande-te também em mim. Ai meu amor. Sentiste?
Nossos corações falharam um batimento em sintonia,  vês quão belo é este ser,  este organismo que nos une. Não  peço mais nada,  não preciso de mais nada.
Fica só,  dia após  dia,  reitera em mim o teu amor,  deixa-me fazê-lo em ti. Permitamo-nos a isso.

Tá  vendo? O mal de amar é  esse: você enche a sua casa de tudo dele,  até  o pó  é  feito dele,  cada canto com marcas dele e quando se acaba,  todo seu mundo desaba,  todo o universo finda. Difícil né? Vai custar imenso para passar, mas vai passar.
Dá uma faxina nessa casa,  aproveita e limpa também sua vida. Você já existia antes,  vai continuar a existir, ele pode tudo,  mas só  pode se você deixar. Por isso não  deixa,  provoca uma insureição,  não  se dobre por nada,  muito menos por alguém.
Faz da revolta sua bandeira e derruba esse regime,  quem disse que só  dele você viverá?  Só  dele dependerá?  Quem disse? Há  muito mais coisas em ti,  ainda há coisas a descobrir.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Não me olhes assim

Esses olhos que me julgam
Esses olhos que me lêem
Esses olhos que vêem

Queres falar?
Fala!
Queres ir embora?
Vai!
Mas não me olhes assim.

Não desse jeito,
Que me mata,
Que corrói,
Quando me olhas
Tod'alma dói.

Não me olhes assim,
Por favor, não  me olhes assim.