Miguel,
estou sozinha nesta casa enorme...mas tu estás em tudo. Pensei que o tempo ia te fazer partir, mas quanto mais só fico mais sinto a tua presença. Às vezes pareço ainda ouvir tua voz, e isso me assusta, será que estou a enloquecer? Porque isto supera toda a normalidade, devo estar a enlouquecer.
Pelo menos parei de sonhar contigo, mas a minha pele ainda pede as tuas mãos, e esta cama está grande demais, só para mim, é grande demais. Por isso agora durmo no chão d nossa pequena salinha. E não tenho dormido sozinha, tenho vergonha disso, mas é verdade. E nas noites em que eles não estão, eu bebo, e fumo mais que algum dia fumei, e repito a mim mesma que vou ficar bem, que vou te tirar de mim. Deus queira!
Deposito toda a fé nesse novo terapeuta que achei...ainda não vi nada, mas sempre me disseste para ter fé. Ele me pediu para deixar de frequentar os nossos lugares, por isso deixei de trabalhar, esse é um dos males maiores. Não me posso livrar do carro, nem da casa, mas esse trabalho que me implica ver-te todos os dias, posso, pelo menos até ficar bem.
Sei que isso tudo é mirabolação minha, que já não queres saber de mim, que eu estar ou não estar, não te faz diferença, mas eu não escrevo para essa pessoa fria que te tornaste... Eu escrevo para o Homem que eu amei, que passou noites em claro quando minhas dores não me permitiam dormir, eu escrevo para o Homem que me pediu em casamento, eu escrevo para o Homem que disse querer deixar o mundo para trás e seguir em frente comigo, eu escrevo para o Homem que me amou, e que eu amei, como nunca amei ninguém...e talvez nunca venha a amar.