quarta-feira, 15 de junho de 2016

Miguel,

     estou sozinha nesta casa enorme...mas tu estás em tudo. Pensei que o tempo ia te fazer partir, mas quanto mais só fico mais sinto a tua presença. Às vezes pareço ainda ouvir tua voz, e isso me assusta, será que estou a enloquecer? Porque isto supera toda a normalidade, devo estar a enlouquecer.
   Pelo menos parei de sonhar contigo,  mas a minha pele ainda pede as tuas mãos, e esta cama está grande demais, só para mim, é  grande demais. Por isso agora durmo no chão d nossa pequena salinha. E não tenho dormido sozinha,  tenho vergonha disso,  mas é verdade. E nas noites em que eles não estão,  eu bebo,  e fumo mais que algum dia fumei,  e repito a mim mesma que vou ficar bem, que vou te tirar de mim. Deus queira!
     Deposito toda a fé nesse novo terapeuta que achei...ainda não vi nada,  mas sempre me disseste para ter fé. Ele me pediu para deixar de frequentar os nossos lugares,  por isso deixei de trabalhar,  esse é um dos males maiores. Não me posso livrar do carro,  nem da casa,  mas esse trabalho que me implica ver-te todos os dias,  posso,  pelo menos até ficar bem.
     Sei que isso tudo é mirabolação minha,  que já não queres saber de mim,  que eu estar ou não estar,  não te faz diferença,  mas eu não escrevo para essa pessoa fria que te tornaste... Eu escrevo para o Homem que eu amei, que passou noites em claro quando minhas dores não me permitiam dormir, eu escrevo para o Homem que me pediu em casamento, eu escrevo para o Homem que disse querer deixar o mundo para trás e seguir em frente comigo, eu escrevo para o Homem que me amou, e que eu amei, como nunca amei ninguém...e talvez nunca venha a amar.

As luzes da madrugada lembram-me de ti. Eu não consigo dormir sem ouvir a tua voz, e sinto uma tremenda falta tua, será que sabes isso? Será que também faço falta?
Enfim, eu sei que hoje falta, e amanhã, talvez já me tenhas apagado de ti e eu tenho deixado de existir...afinal, em uma semana e um dia, a gente supera qualquer presença em nossa vida. Mas não penses que é isso que desejo,  longe de mim....se soubesses,  que eu queria te ter comigo,  queria ser tua,  de verdade,  e queria que fosses meu... queria que me pedisses para ficar,  mas com vontade,  como se a tua vida fosse acabar,  não com essa voz de quem diz fica,  só para eu te ter uma vez mais e depois podes partir. Não assim.
Eu queria que me explicasses todos os motivos que te fazem ficar a madrugada toda a falar comigo,  que te impedem de adormecer sem ouvir a minha voz,  eu queria saber,  aqueles que guardas em ti,  que nunca  me contaste,  porque eu sei que há mais,  que não é  só vontade e desejo,  e tesão. Eu sei.
Ou talvez,  seja eu,  uma vez mais,  a querer encontrar motivos para crer que a minha presença  faz a diferença,  motivos que nem existem,  porque se os houvesse,  nós  não estaríamos assim,  pelo menos eu não estaria assim.
Com uma ressaca tua,  com uma vontade de me embriagar,  mesmo que isso seja errado,  mesmo que depois de tudo isso eu continua a ser só eu,  e tu,  só tu. Eu não estaria assim,  se em mim não houvesse nada,  se fosse só uma semana,  e eu pudesse voltar à  minha vida,  eu não estaria assim.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Eu passei tanto tempo, a acreditar que acabou, que o fogo que eu tinha em mim não iria voltar a arder... passei tanto tempo a tentar encontrar justificações para tudo que correu mal, sim porquê, no meio disso tudo, eu falhei, muito mais do que tu, falhei porque fui eu quem mais acreditou, fui eu quem mais amou, eu quem mais sofreu. Por isso eu falhei.
Mas passei tanto tempo, a criar muralhas à volta de mim, a arranjar motivos para manter tudo e todos distantes...eu fiz tanto, prometi a mim mesma tanto, e tu chegas como quem não quer a coisa e um dia me arrebatas e mudas a minha órbita.
Foda-se, se esta merda for mentira, se for tudo encenação....

Eu senti, 
senti consumir-me aos poucos...
Disse a mim mesma
A vida
Acontece aos poucos...

Mas é  mentira, 
Eu sei,
Eu sinto,
Tu sabes, 
Tu sentes.

A vida impulsiona,
A vida transborda...

O coração saiu pela boca...
"É  agora. É  agora." Corri,  como não corria há  anos,  corri para preservar o pouco de vergonha que me resta...eh quando eu digo que não tenho nada a perder,  minto a mim mesma. Tenho,  e muito.
Mas nas voltas que esta vida tem dado,  prefiro acreditar que não tenho mais nada a perder. Porque uma pessoa que se rasga constantemente na esperança de ajudar a curar...tem que passar a acreditar que não tem mais nada a perder.
A verdade é que o meu coração,  tomou um caminho pelo esófago acima,  e toda a minha inconsciente, todo o meu esforço em tentar viver  ao limite,  foi travado pelo meu cérebro. Eh,  viver ao máximo tem disso,  a gente não mede a dimensão das nossas atitudes,  e sempre esperamos que corra tudo pelo bem,  mas a verdade é que não  vai correr.
Em última instância,  depois de toda essa euforia passar,  eu vou acabar com um misto de sentimento de pesar, coração partido, tu vais voltar para ela, e eu vou voltar para a minha vida de auto-comiseração.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Distante

Nós  decidimos continuar a nos amar,  mas nos amar à  distância. 
À  distância ninguém sofre,  à  distância eu escolho acreditar em tudo que prometeste,  guardo comigo todos os teus quadros,  partilhamos uma vida, sabes? 
À  distância dou-te todo o meu amor,  da única forma que o sei dar, à  distância não há cobranças,  não tenho eu de te pedir mil vezes que me ames mais puramente,  mais intensamente, mais e mais e mais; à  distância não tens de sentir a minha intensidade,  podes ser tu a mandar,  a corrigir e a viver dentro dos teus limites.
À  distância eu amo-te platonicamente,  és tu o amor mais perfeito; à  distância tenho-te pintado com meus tons,  todos os dias sou mais tua, ainda falta realizar sonhos tantos que idealizamos. 
À distância serei sempre tua,  só eu te amei desse jeito, à  distância lembro tudo que fomos,  do quanto ainda poderíamos ter sido. Amo-te,  sabes? Só tu mexes comigo desse jeito.
À noite imagino-te inquieto procurando maneiras de me ouvir,  é  que sempre bate aquela saudade. Distante amando,  a gente também sofre. 

Imagino se tivéssemos lutado,  se tivéssemos cedido cada parte nossa,  mas sem fingimento,  pura e integralmente. Se assim fosse,  meu amor,  meu mundo,  diz-me,  ainda estaríamos juntos?