segunda-feira, 30 de maio de 2016

Carta de um Velho Caduco

Eu? Eu não sei nada,  pelo menos é  o que o meu neto me diz: "que sabes tu sobre isso? Avô,  tu não sabes nada." E eu aceito,  deve ser verdade,  nunca fui à  escola,  mas sei contar até dez,  embora às  vezes me esqueça que o 5 vem antes do 6. Mas sei contar. Cresci no campo,  nunca vi a cidade,  até que a minha Clarinha decidiu expor-me aqui,  é  expor, sim. Porque só existo no Natal e na Páscoa,  nessa altura,  todos são mais cristãos,  todos amam mais e mais profundamente, mas que sei eu? Eu não sei nada.
Eu cresci na aldeia, e o meu primeiro amor,  foi  o primeiro e o último,  a minha Maria,....aiiii,  ainda me lembro tão bem,  ela assaz leda,  cantil na cabeça,  ainda me lembro. Mas desviei o olhar quando ela me viu,  não tive coragem para a mirar assim. Levei meses a ter. A minha Maria,  não era a mais bonita,  nem a mais esperta,  mas era minha,  trocámos cartas pra lá de dois anos,  até eu ganhar coragem,  mas lá ganhei, "é  preciso força para fazer o que tem de ser feito".
O meu netinho não entende isso...a moçoila que o encanta,  andam num jogo de orgulho e falta de confiança,  vivem de ilusões que eu não assimilo: no meu tempo não eramos assim, eramos mais verdadeiros,  se era para impressionar era pela positiva. Porque o amor tem de ser sempre pela positiva. Mas eu não sei nada,  pelo menos é  o que ele diz.
Mas eu sei,  eu sei,  que a minha Maria adorava a flor roubada do quintal do tio Zé,  a minha Maria ria  sempre de tudo que dizia,  e olhava para mim com ternura e nesses momentos eu sabia que não haveria outra neste mundo,  e eu,  nesses segundos,  amava-a mais,  e não me continha,  arrebatava-a do chão e dávamos a volta ao mundo,  pelo menos no mesmo lugar, e o sol no meu olhar teimava em me fazer chorar,  e ela sabia,  eu não tinha de falar,  mas ela sabia. Mas eu,  eu não sei nada.
No meu tempo,  noutra altura e noutro lugar,  amor era um valor imenso a dar e hoje esses miúdos nunca hão de saber o que é  amar,  porque estão demasiado preocupados em impressionar,  em tentar se auto superar,  em tentar parecer cool,  sem saber que o amor,  é  o simples acto de se entregar. Só isso,  mas que sei eu,  eu não sei nada,  afinal,  uma pessoa que não se limpa quando se baba,  deve ser uma pessoa acabada...

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Então eu incendiei tudo,  e fique ali,  estática a ver as labaredas te consumir... desejei que fosses tu,  de certa forma até foste. Porque esta pessoas que passa por mim todos os dias,  já não és tu,  ela usa óculos e tem barba de duas semanas por fazer,  não podes ser tu.
Eu fiquei ali, pensei que me fosse também consumir... não foi.
Pensei que eu iria debruçar-me em prantos lamentando,  tudo que havia incendiado...não  foi.
Hummm,  parece que já não há nada. Sem ser esta réstia de ainda escrever sobre ti,  até não....sobre o que fiz para te esquecer...sem ser isto,  já não há nada.

Sempre fui tão dramática,  pesando as coisas numa dimensão sobrehumana. Pensava que se as pessoas não falam durante um dia,  talvez nunca mais se voltem a falar,  que se o adeus não é dito com amor,  as coisas nunca mais serão iguais. E é  isso que eu transportei para a minha forma de amar,  sempre tão incomensurável,  sempre tão vívida...

Eu...

Sou eu...

Entre pedaços
de um coração partido, 
sou eu, 
meio despida, 
desorientada, 
questionando
toda minha existência.

Nos momentos em que
o tempo para, 
que pareço distante, 
e estou, 
mas tu não sabes, 
sou eu.

Ao falar
coisas descomedidas, 
sorriso nervoso, 
olhar inquieto sou eu, 
tenho de me aceitar assim

De manhã, 
com o pior humor do,
exausta da vida, 
Ou à noite
quando não consigo adormecer, 
e imagina mil saídas
deste enredo
que estou a viver, 
sou eu

Com lágrimas nos olhos, 
com peito apertado, 
procurando fazer o bem, 

No momento
em que vejo
com maior clareza, 
e sei que tudo
Deus sustém, 
sou eu.

E estes dias, 
quando me deixei invadir
pela paz da morte
que arrebata, 
deixando para trás
pesadas lembranças, 
fui eu.

Ela

Olha para mim, 
é  isso que pensas
que persigo?
Não me conheces ainda, 
se é  assim que visualizas.

Eu nunca quis Cayennes, 
e hotéis de cinco estrelas,
Tenho em mim um universo
cheio delas.
Não precisei que fosses omnisapiente, 
precisava que por dentro
me conhecesses.

Tou cansada
de conversas
de pensamento vazias, 
em que tenho companhia
mas nunca me senti tão sozinha.

Se fossemos só os dois, 
podiamos andar a pé,
carago,  se desse,  descalços até.
Nunca te pedi mais que verdade, 
de ilusões
está  cheia a humanidade.
Eu quero alguém transcendente, 
que não caiba na comum mente, 
quero insanidade, 
intocável necessidade
de pertença de ser.

Se me quisesses assim,
Se me mostrasses todo um mundo
por descobrir,
quão bom seria
a minha existência em ti,
Tiveste medo.
De quê  não sei,
tiveste medo,
e só agora o sei.

Desculpa se ajudei
esse medo a crescer.
Desculpa se te fiz
pensar que
muito mais tinhas de dar,
Queria-te assim,
sem mais nem menos,
verdadeiro por inteiro,
amor transcendente,
Como se fosse,
O primeiro.

Ele

Dei-te tudo que podia dar,
Eu sou aquele menino,
Numa turma  de 100,
Que vem com um lápis e um caderno
Todos os temas no mesmo
Não tenho onde mais os apontar.

Numa guerra de artilharia
Da pesada e actualizada,
Venho de flecha e espada,
Ando a pé
Pés sujos,  roupa cansada.

Apanho autocarros para chegar a ti,
Não sei o sabor do táxi, 
Nunca o senti.
Sou metade do que deveria ser,
Mas tudo em mim é verdade
Porque eu vim com tudo que tenho,
Tudo que sou, 
Tudo que me tem mantido,
E dei-te tudo esse cosmo.

Que pode ser mais real
do que isso?
A verdade é que
eles deram-te Cayennes,
o Sol, as estrelas
e o Luar,
hotéis de cinco estrelas,
e nunca mais a pé
tiveste de caminhar,

Eu, ao pé deles
sou tão pequeno,
Tive medo,
tive medo,
mas em tudo isso fui sincero.

O Amor trancende,
Toda a pequenez do ser.
Penetra a fissuras do teu ser,
Torna-te uno...
Impulsiona-te,  mostra-te como caminhar, 
Como respirar...
Esclarece a tua ignorância:
"Há mais para ver, 
o mundo não termina aqui"
Ele faz isso...

Sentado na varanda dos meus avós,
No parque,  depiis de cair,
Na fila do supermercado, 
quando deixaste o teu odor fluir,
Nos meus sonhos antes de te encontrar...
Conheci-te...
Sem querer,  sem procurar, 
Como chuva miudinha, 
Em crescendo...

Sim,
porque os furacões, 
Esses são bons
enquanto pensamos
que é chuva tropical, 
quente e salubre,
mas depois
de todo o alvoroço
temos um fecho de destruição.
Os furacões não.

Mas a chuva miudinha, 
essa que nasce
de uma nuvenzinha, 
quando nos vislumbramos na multidão, 
que não foi precipitada, 
que levou tempo...
a chuva que cheira
a Amor verdadeiro, 
que anuncia a Primavera, 

quando os Astros se posicionam
em orquestra filarmónica, 
e a minha Ascenção conhece a tua, 
e nós  sabemos,  que depois de cada chuva vêm flores...

Um jardim de aromas, 
pintalgando o nosso cosmo,
de força hercúlea, 
vestida de Artemisa,
sobre todas  as vicissitudes
transcente e
sobremaneira vence.
Isso é Amor, 
sem mesquinhez, 
sem meias palavras, 
dois pesos e duas medidas, 
um amor que é muito mais.

Quando dás por ti, 
a rezar para que
o sentimento de solidão suma, 
que ele/a te veja como oxigénio
e razão de viver
Isso não é amor.

Quando tens de arranjar
justificações para a falta
De carinho,  de tesão,
para a falta
De emoção
Isso não é amor.

Se num dia como outro qualquer, 
deres por ti, 
a ver as coisas em perspectiva, 
e o tempo abrandar e
questionares-te:
"o que ainda faço aqui?"
Isso não é amor.

Se fores só tu a lutar, 
se a exaustão for
sobremaneira existencial, 
do tipo que nem
com mil anos de descanso
é  possível suprir, 
Isso não é amor.

Porque o amor, 
é  sinónimo de luta, 
mas não de campo de batalha, 
nem de Titanic que submerge.

Porque o amor, 
não é o moro de lamentações 
ou procissão a Fátima,
que no fim
encontraste com joelhos esfolados, 
alma nua, 
e olhar desnorteado.

Porque o amor,
não é uma sexta feira negra,
ou um leilão público,
em que rezas: 
"que a tua seja a melhor solicitação",
porque estás tão inseguro de tudo,
De todos, 
sem certeza do valor
que tens e
em teu âmago sufocas:
"é eminente o fim",
tu sabes, tu sabes, tão bem,
ninguém precisa de to dizer,
tu sabes,
consegues senti-lo
tão vividamente
de maneira tão transcendente,
que se tentares explicar
ninguém vai entender,
mas tu sabes.
Nada disso é amor,
talvez laivos
de paixões doentias,
mas não te atrevas a acreditar
que é amor.
O Amor, é  muito mais que isso,
muito mais.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Tão minha...

Dá-me um prazer...é doentio até, mas dá-me prazer saber que tens sofrido.
Eu ainda não te tirei por completo de mim mas a cada dia que passa estou mais próximo disso....de te ver apenas pelo que realmente és ...bandido, falcatrueiro, tudo que eu dizia a mim mesma que não eras. E isso é bom porque tenho me enchido de uma paz... essa gripe que me acomete também ajudou nisso.
É que eu vi que tenho de cuidar de mim, que há outras coisas nesse mundo para além da vida que pensei construir contigo. E sabe o quê?
Quem perdeu foi você. Eh, foste tu que perdeste, é que eu posso ser desequilibrada, mas dei-te um amor que nem num milhão de anos hás de encontrar em todas as vacas que comeres. E no dia que caires em ti, no dia em que, a meio da noite estiveres a sufocar, ao lado de uma vaca que não tem nada na cabeça sem ser o postiço brasileiro, nesse dia meu amor, eu ja não vou ser tua. Vou ser tão minha que mais ninguem me vai tirar de mim. Vou ser tao minha que o teu nome vai deixar de me incomodar. Vou ser tão minha que os lugares e as coisas que fizemos vão ser um passado longínquo, que se esvanece no fumo do tempo. Eu vou ser tão minha como tinha esquecido de ser. E não deixar que alguém me volte a tirar de mim.

sábado, 21 de maio de 2016

Estou num reply do que vivi contigo, é uma experiência transcendente. Em cada lugar que foi nosso, nos vejo e revejo inúmeras vezes, parece que foi tudo bom....mas não pode ter sido, certo?
Por mais que eu tente me convencer que podíamos superar a insegurança e a desconfiança, por mais que eu só queira guardar o que foi bom,que eu sonhe todos os dias com um mundo inconcebível,tu e eu,aqui e agora,para sempre..., mataste-me tantas vezes, tantas vezes dormi sufocada, sem saber, foi isso que mais me custou não saber o meu valor para ti...isso matou-me muitas vezes.

domingo, 15 de maio de 2016

Transborda

Tenho apagado todos os pesos prescindiveis desta vida, mas tu não...
Guardo-te tão junto a mim e tu nem sabes,  que não tenho sufocado, que tenho voltado  a acreditar aos poucos e que simplifiquei tanto as coisas. Eu que sempre fui assombrada e perseguida,  simplifiquei as coisas pq contigo eu só  quero que seja simples,  respirar sem descompassar o coração, andar sem medo de vacilar.
Mas custa um pouco essa tua indiferença, não te peço que me entregues tua vida, ou que me faças tua rainha...não te peço nada disso....
Pousa em meu colo e fica, porque neste momento, neste preciso momento, tu és o objecto do meu amor...
Aceita numa mentira esse amor,diz que sim,que também sentes,diz que me amas eternamente. Sei que não,mas mente um pouco mais...é que o amor que em mim há transborda,e em ti hoje vou transbordar.

Onde quer que estejas,  transborda. Como quer que estejas,  transborda. Tal qual um rio que flui com abundante graça,  transborda de amor,  de bondade, transborda e flui onde estiveres,  ensina aqueles iletrados, ensina-os a ser o bem,  a querer o  bem e a crer no bem. Transborda. Onde quer que estejas. Transborda. Sempre,  independentemente de tudo.