quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A Cidade...

Hoje conheço a cidade como a palma da minha mão,  lugar onde a tua esteve, e todos os caminhos têm  uma parte tua,  porque percorremo-los tantas vezes.
Não consigo me livrar das memórias que fizemos, não consigo.
Ontem rasguei aquela brochura, da casa que sonhamos ter,  rasguei-la por já não aguentar ver-te em tudo, sentir-te em tudo e não te ter. Não aguento isso.
Deves achar que tudo isso é  mentira,  porque me tens visto sorrir,  aprendi a usar máscaras,  teve de ser.
Aprendi contigo tantas coisas más: que só  devo confiar em mim, que o amor é ilusório, que é  difícil  conhecer a verdade, que é  possível  nos perdermos na escuridão, que as pessoas vivem de mentiras, que eu nunca  fui suficiente e talvez, para ti, nunca venha a ser...
Conheço a palma da minha mão como conheço esta cidade,  e quando conhecer o mundo lá fora em mim só haverá saudade,  e uma mágoa imensa de não partilhar isso contigo.

Caminhos...

Agora,  sempre que fecho os olhos vejo estradas,  quilómetros e quilómetros  de estradas; todas me levam a ti e de ti me tiram, as estradas que pecorri, os letreiros, todos  me levam a ti: Sintra, Mira Sintra, Cova de Sintra, Mem Martins, IC19, todas levam a ti.
Vejo estradas, mas vejo também  a ansiada chegada, em ti anseio. Encosto de mansinho, mas minha vontade é  de te sufocar de carinhi, te encher de amor; por ti anseio, faz-me essa vontade.
Não  te querk ver ficar e partir, porque percorro o Universo para pousar nas tuas estrelas, porque eu gravito em ti; sejam 9h ou 2h da manhã, se me chamares, eu gravito: vê-me cruzar os céus, minha cauda celestial, entrar na tua órbita  e pousar qual ave em ramos do loureiro.
E em todos os momentos me afogo,  inspiro e não  te quero deixar ir; fica,  fica,  fica aqui; por favor, faz isso por mim. Ou se for para partir leva-me contigo,  toma-me pela mão  e partamos para nunca mais voltar. Não  me soltes nunca,  toma-me pela mão  e vamos.
Vamos por esse mundo fora,  vamos realizar nossos sonhos: eu quero-te como irmão,  como pai,  como homem,  como mulher,  como cuidador,  como tutor; quero-te tanto que até  receio esse querer. Mas não  tem outro jeito,  eu quis-te muito antes de teres chegado. Quis-te pela metade,  1/3,  2/4, mas nunca deixei de te querer; vi-te pela metade em tantos,  pela metade amei um tanto,  pela metade entreguei-me entretanto,  pela metade fui,  pela metade aceitei o que me foi dado. Mas sempre inteira em ti.
O que vi em ti,  em outro nunca foi total: em uns vi amor,  mas não  o carinho,  noutros vi o dom,  mas não  o sentimento,  a entrega mas não  a correspondência. Em todos fui um pouco prisioneira. E tu o sabes,  no momento em que me libertaste,  eu também o soube: fui prisioneira durante muito tempo.
Presa estive a sentimentos culposos,  pessoas a quem senti dever o mundo, a perdões  que ainda não  tinha dado,  até  a mim estive presa. Hoje sei-lo,  hoje quebrados estão  certos grilhões,  mas muitos mais resistem,  é  desses que tenho medo,  é  por esses que ainda escrevo para ti.
Quando fecho os olhos e estradas vejo,  sinto também  a paz que há  muito não  sentia; tu deste-me essa paz,  na chegada e na partida,  deste-me essa paz. E por isso obrigada; não  te posso dizer que já  não  anseio por ti,  estaria a mentir,  a mim mesma e a ti. É  verdade,  anseio por ti,  constantemente,  mas já  não  com o sufoco posterior a te ver partir,  já  não  tão  penetrante.
Hoje anseio por ti,  como a brisa matinal que refresca em dias de calor abrasador. És o reencontro do mar com a areia quente entre os dedos dos pés,  que me levam sempre a não  saber bem a tua temperatura: se me aqueces ou arrefeces,  não  sei,  mas também  não  és  morno,  tudo menos isso. És  explosivo. Pelo menos para  mim és  explosivo,  e é  disso que eu gosto.
Não  um explosivo que mata,  mas im que força  o ser a revelar toda a sua essência,  que força  a entrar em sintonia com o Cosmo,  força  a ser mais,  a querer mais,  também a dar mais e amar mais. Tu és  esse tipo de explosivo.

21 de maio de 2015

domingo, 21 de agosto de 2016

Maurício, 

Ainda agora deixei a tua casa e já  sinto falta de ti. Tenho tantos fantasmas em mim,  tenho tantos medos,  medos que nunca te disse. Aqueles que vieram  antes de ti,  deixaram tantas lacunas,  que não  consigo ser a mulher que mereces que seja. Perdoa-me por isso.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Naquela manhã, ela levantou-se antes de o despertador tocar. Na verdade, nem conseguiu dormir, estava ansiosa, inquieta, repassando mentelmente tudo aquilo que deveria e não deveria fazer para que corresse tudo bem e o que fazer se corresse tudo mal. Por as coisas sempre arranja uma forma de correr mal, ainda que planeemos tudo ao milímetro.
Ao leventar, sentou-se por instantes e pediu que tudo  corresse bem, quem sabe se os santos todos se juntarem, as coisas acabem por entrar nos eixos. Estendeu a mão para alcançar o copo de água, abriu a caixa de Pandora: um de magnésio, um de complexo b, um analgésico, e uma pílula. Tomo-os num gole rápido e dirigiu-se à casa de banho. Em frente ao espelho, colocou a toca de banho, depois retirou os calções verdes e a camisa do Snoppy, e entrou no chuveiro. O banho foi rápido.
“Talvez devesse lavar o cabelo”, penso para consigo. O abelo estava seco, mas se o lavasse teria de gastar mais uma meia hora para secar, com o secador, nesssa meia hora perderia tempo precioso. “Ham, é melhor não”.
Saiu do banho, e ao entrar no quarto, à sua esquerda o toucador, com a roupa preparada de véspera, estava escuro demais para se perceber. Letícia, então abriu as persianas do quarto e  abriu a janela, para deixar a vida entrar.
Colocou creme no corpo, e sentada na cama, esperou a pele absorver a loção. “Vai correr tudo bem, se foste escolhida é porque és boa no que fazes.”.
Cinco minutos depois, levantou-se e vesti-se. Primeiro a roupa interior, depois a calça social azul, e a blusa de cetim branca, pouco decote, meia manga. Em frente ao espelho, mirou-se, “tudo me assenta bem, mas hoje tenho de estar maravilhosa”. Colocou um pouco de perfume, levezinho para não avassalar quem tivesse contacto com ela, afinal de contas estava a ir traalhar, não tomar um copo.
Sentou-se no tocador e fez um apanhado alto. O Cabelo sempre tão rebelde, dificultava as coisas, e é nestes momentos que Letícia pensava naqueles que a aconselhavam a alisar….ms não, ser igual aos iguais, isso é morrer.
Ser iguais aos iguais é o cúmulo de existir, Letícia, sempre fora diferente, e durante muito tempo, lutou contra essa diferença, quando somos pequenos e ninguém nos ensina a nos amarmos, acabamos por achar que o amor só existe numa forma e essa forma é concretizado pela concepção existente e proliferada pelos meios sociais. E dá medo, ser diferente, aceitar essa diferença, aceitarmo-nos como seres únicos e das maiores batalhas desta vida.
Letícia, A Letícia Elissier, de tez negra, cabelo armado, nariz nada refinado, de voz doca, oponente, Letícia dos lábios grosso, dos olhos que falam, do rosto expressivo demais, Letícia, que sempre foi inteligente, mas calada demais para ser conhecida, Letícia que hoje, nesta manhã de Novembro se prepara para o seu primeiro dia como Directora de Relações Públicas da maior empresa de eventos do país. Letícia, que se prepara para enfrentar o mundo.
Depois de muito lutar, lá conseguiu, lá o cabelo obedeceu. De tez limpa, ponderou que tipo de maquilhagem fazer, “Simples é melhor”. Com leveza, maquilhou-se, quando terminou, tomou a pasta pronta de véspera, e saiu.

Onze anos antes…
Naquela manhã, Letícia não conseguiu levantar como era o normal, algo parecia fora do lugar. Virou entre os lençõis e ao tentar deitar-se de costas sentiu uma pontada. Manteve-se deitada de lado, “será que dei um mau jeito, durante a noite?”. Tentou levantar-se, cheia de dores lombares, dirigiu-se à casa de banho e no armário retirou uma aspirina e tomou-a. Sentou-se na sanita, urinou. Esperou o efeito do comprimido, com a mão nas costas, como se também ajudasse a passar.
Dez minutos depois, Letícia retomou os seus afazeres. Como se tivesse acordado num dia nor mal como outro qualquer.

“DRP”, as letras na placa, o sentimento de pertença. Sabem quando entramos num lugar novo e temos receio de fazer certas coisas? A casa de um amigo, um edifício privado, quando procuramos um lugar para estacionar e estão todos marcados…pois, hoje esse sentimento está ao avesso. Letícia mirou por alguns segundos a placa do seu lugar de estacionamento, “Meu”, este sentimento de pertença. Não se pode descrever.
Foi interrompida pelos condutores expectantes que se encontravam atras de si, despertou e fez a manobra em dois movimentos. Ainda era cedo, o relógio marcava 5 para as 7, e ela só entrava às 8h30, mas não aguentava mais ficar em casa. Não comera, o estomago já estava inquieto,  se comesse talvez fosse piorar o cenário. Ficou sentada no carro, refreiou o banco e, aumentando um pouco o som do rádio, ficou ali, a apreciar aquele momento.
No aparelho cantava coisas sobre o quanto alguém tinha magoado o cantor, “ Credo, que vibe pesada”, por isso ela decidiu mudar de música. Passou umas quinze, e depois parou. O som do piano, no intróito, “Open your eyes, now,/ Open your eyes, now,”.  Passou a mão pelo testa, desligou o ar condionado, abriu a janela, deixou a vida entrar, o frio da alvorada. “She’ll be a star now, I’ll follow her a lead”.
A música embalou-a, adormeceu, e no mundo onírico, estava num bar, estava  a trabalhar. Sentiu uma mão, no ombro e quando virou viu-o, Miguel, ele com um copo na mão. “Posso falar contigo?”, “Naão tenho nada a te dizer”,” Por favor”, pegou-a na mão, “Por favor, ouve-me se faz favor”.
Letícia despertou, dez para as oito,”Credo”. Os fantasmas do passado sempre voltam para nos assombrar.
Calçou os saltos, pegou a pasta e saiu do carro num pulo.

Havia três meses que as dores lombares se mantinham, e alastraram-se. Primeiro as articulações, depois todo o corpo. O toque queimava na epiderme, e à noite dormir tornara-se cada vez mais impossível. Os lençóis pareciam facas as raspar a pele, Letícia não conseguia mais dormir toda a noite, acordava de duas em duas horas, e a rotina tornou-se esgotante. Durante o dia, bebia copos e copos de café para tentar manter uma vida, e enchia-se de analgésicos, mas não demorava muito o efeito.
Nos meses que se seguiram, Letícia passou de médico em médico, de exame em exame, e nada. “Dores de crescimento”… Dores de martírio, ela pensava. “Será que é esta a minha sina, é este o resto de vida que estou destinada a ter?”. As dores pioraram, quando o solo se ponha, Leticia não conseguia se manter de pé andava vergada como alguém que suporta o peso do mundo. À noite, chorava deitada, tentando encontrar uma posição, a menos dolorosa, a menos penetrante, mas nenhuma servia, e nada aliviava a exaustão, nada melhorava o animo de sentir dor, a todo o tempo.
Ela distanciou-se das pessoas, “Quem há de querer estar com alguém que não pode ficar muito tempo de pé porque quase desmaia? Que não pode ficar muito tempo sentada, porque tem de mudar de posição de tempos em tempos porque tudo dói? A quem a luz, os cheiros, tudo incomoda, quem quer estar com alguém assim?”.
Na altura tinha ela dezassete anos, chorou, questionou-se vezes e vezes sem conta do porque de estar a passar por aquilo, não teve resposta: seria genético, seria fruto de um trauma, seria adquirido?
Fechou-se, já nada tinha gosto. Estar ao pé das pessoas era mera formalidade, mas já não fazia sentido. Ver toda a gete fazer planos, dava vontade de chorar,” De que serve fazer planos, se hoje mesmo posso morrer? Nada disto faz setido”. Às vezes, a meio de uma conversa, Letícia começava a chorar, aconteceu tantas vezes que parou de sair com amigos, parou de ir a certos lugares. As dores pioraram. A dor emocional também.

Uma vida...

Uma vida ao teu lado soube a pouco
Os dias sucederam-se e eu não  me apercebi...
O tempo invasivo tomou conta de mim,
Não  tenho forças,
Não  tenho credo,
Se partires,
A morte trará consigo meus medos.

Ao teu lado sempre fui forte,
Sempre fui capaz,
Ao teu lado acreditei  em unicórnios, sereias, duendes e lordes.
E meu amor sempre foi um imenso transborde.

Uma vida  que passou a correr,
Quero voltar atrás  e a reviver,
O meu altruísmo  sobrehumano
Mil vezes ainda te ceder,
Se eu pudesse o tempo parar,
Meu amor se eu pudesse,
Nunca te perder...

Mas soube a pouco,
Tão  pouco, tão  breve,
Fui tua e sempre tão  leve...
Uma vida que hoje finda,
Uma vida que te leva,
No leito deste quarto,
Sou tua amante eterna.

Uma vida ao teu lado soube a pouco,
O amor transcende tempo, lugar e vida,
Num eterno transpor
Do que em meu peito sempre esteve.
Uma vida que hoje finda,
Leva-me contigo,
Leva-me para sempre.
Se morres agora,
Morro também, serenamente.

Faltou te humilhares mais umas quantas vezes
Faltou ter chorado mais umas quantas vezes
Ter feito o papel de impulsiva,
Ter corri atrás como se fosse tua razão de viver
Faltou ter sofrido mais, 
Ter desejado mais
Ter sido mais umas quantas vezes.

Faltou ter tentado todos os dias,
E cair sempre no vazio.
Faltou toda a compreensão e empatia,
Todo o altruísmo  sobrehumano,
Toda a vida dada sem pestanejar.
Faltou tudo isso.

Faltou mais ainda,
O amor próprio
O egoísmo  heróico,
Faltou a capacidade de discernir
Entre amor e obsessão
Faltou deixar de ouvir o coração.

Faltou partir enquanto era tempo,
Faltou ser mais para si,
Viver mais para si,
Faltou sonhar com coisas melhores
E ir atrás de coisas melhores.
Faltou abandonar as ilusões.

É  tempo,  "é  tarde,  e era bom que não  fosse."

There's a darkness surrounding me
There's a path I've lost
And I ear voices calling me
But I'm  all alone.

I remember my track,
But there's no sight of it,
My demons consume
My weakness is you

There's  a darkness surrounding me
But I still see light
There's hope within me
An unconsuming fire will I breath

And I fade,  I let them take me
From the shadows my gap increases,
It consumes me,  it overwhelms me

Across the pitch I walk, 
Not me,  someoelse

Riped my soul in the path, 
I'm alive,  but I'm  not
There's light surrounding me
But my heart's pitch black.