sexta-feira, 14 de abril de 2017

Trivialidades

Ela gosta desse tipo de coisas,  coisas banais.
Da mensagem de bom dia,  antes mesmo de levantar,  na cama, ainda,  com o resto de sono,  da noite mau dormida. E a voz dele do outro lado do celular,  trivialidades.
O nome dela deixara de o ser e se tornara num nome qualquer que ele achara, e se da boca dele soassem outras palavras mexia com ela de tal jeito,  ela gosta especialmente dessa banalidade. Do que ela  representava.
No ecrã do celular dele,  a foto dos dois,  e o contacto mudara,  trivialidades hoje tão raras,  que fazia parecer uma última prece.
Daquela que a alma suspira,  no fim da oração, "que chegue bem mansinho,  que me ensine a amar,  que não  pertube a minha alma...que...". Bem assim.
E ela foi banalmente vivendo e o conhecendo e entre trivialidade,  banalidade e mesmice,  ela foi voltando a gostar de viver.
O sorriso mudara,  mais aberto,  mais resplandecente. Não porque ele fizera isso,  mas porque ela,  ela só vivia para se dar. E toda aquela banalidade parecia fazer valer a pena,  toda essa doação,  quase sentia um retorno chegar, bem mansinho,  lá no horizonte, quase viu se formar nele um lar.
E depois o nada,  porque sempre acaba em nada.
Os momentos triviais,  eram apenas isso,  ela é que quis transformar em momentos extraordinários. Os gestos,  as palavras,  as mãos e as longas noites em que ela não se deitava, não passavam disso. E ele,  ele era o mais comum dos homens.
O trivial indivíduo que ela quis endeusificar.

domingo, 9 de abril de 2017

Não deixes que ela vá dormir sem saber o que aconteceu de errado, 
Não deixes que ela se questione a noite toda se as coisas no dia seguinte vão estar bem, 
E que a insónia,  fiel companheira,  lhe venha assombrar contando que vai tudo dar errado.
Não deixes que ela sofra desse jeito.
Não permitas isso.